Georges de La Tour, autor do quadro a cima destacado, é um especialista nato na tendência denominada "tenebrismo", em que os cenários são acentuados como fundos de trevas, escuridão. Contudo, esse toque da arte de La Tour não potencia as trevas como elemento negativo, muito pelo contrário, explora a noite como sinónimo de silêncio e de uma certa paz. De realçar ainda, que nas pinturas de Georges se destaca permanentemente um foco central de luz, quase sempre indireta e neste caso, trata-se de uma vela escondida na mão de Santa Ana. A luz incide particularmente no recém-nascido, sobre o branco dos tecidos que o envolvem e, por último sobre o vermelho da roupa de Maria, numa alusão intensa ao factor feminino. Em suma,trata-se de um quadro notável de um pintor que capta o sagrado com um humanismo raro e intenso, assente numa epifania de luz nas trevas com significado de intimidade.
É sem dúvida um dos meus quadros de preferência, marcado de forma intensa pela pessoa que me mostrou, José Rui Teixeira.
